Pandemia trouxe desafios sem precedentes e exigiu novas habilidades dos trabalhadores que se dedicam à ciência do cuidado
Dados da consultoria KPMG International estimam que, até 2030, faltará mais de 18 milhões de profissionais no setor de saúde, o equivalente a 20% do total da força de trabalho nesta área no mundo. Especificamente no segmento de enfermagem, logo no começo da pandemia, a procura pelos especialistas na ciência do cuidar no Brasil explodiu, atingindo ainda em março deste ano um aumento de quase 400% nas vagas disponíveis em relação ao mesmo período de 2019, conforme pesquisa da Catho. São muitas as oportunidades e linhas de atuação, que vão desde a urgência e emergência até a atenção primária aos grupos de risco. Mas uma condição é essencial: gostar de pessoas.
“O tempo todo nos dedicamos ao bem-estar do outro, seja no cuidado direto, como na medicação, na alimentação, na higiene e conforto, ou mesmo no cuidado indireto, como na central de material esterilizado, nos setores diagnósticos e em toda gestão de enfermagem”, destaca Ms. Hellen Maria de Lima Graf Fernandes, enfermeira e coordenadora do curso de Enfermagem do Centro Universitário UniMetrocamp. “Como acompanhamos nesta pandemia, a enfermagem é quem fica 24 horas ao lado do paciente, realiza o projeto terapêutico junto com a equipe multiprofissional e o apoia em todas as necessidades”, enumera. “Vimos até enfermeiros lendo cartas da família na Unidade de Terapia Intensiva, realizando ligações de vídeo para filhos, pais, avós e não medindo esforços para ajudar no combate ao coronavírus”, relata.
Se para quem estava em casa houve receio e apreensão devido à progressão da doença, quem estava na linha de frente atendendo os pacientes da COVID-19 teve que, rapidamente, se adaptar e aprender novos protocolos, com muita flexibilidade para lidar com imprevistos e limitações. “A pandemia é o maior desafio profissional de todos os que atuam na área da saúde, tivemos pouquíssimo tempo para nos preparar frente a uma situação nunca vivenciada”, avalia Hellen. “Os impactos neste contexto foram enormes, pois vários profissionais foram realocados, o que exigiu muita liderança e negociação por parte da equipe de enfermagem, além do medo e da angústia do risco do contágio”, explica a coordenadora. “Muitos enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem abdicaram de estar com a própria família para cuidar do outro, fato que só reforça a essência da profissão, que é o cuidar, levando alívio ao sofrimento, ajudando a prevenir doenças, colaborando para o pronto reestabelecimento e também desenvolvimento de pesquisas e ensino para a formação de novos profissionais”, aponta. “Não por acaso o Coren (Conselho Regional de Enfermagem) define essa atividade como uma ciência, arte e uma prática social, indispensável à organização e ao funcionamento dos serviços de saúde”, destaca.
Hellen reflete que, em sua visão, o ponto mais delicado deste ofício é lidar com as perdas, quando, apesar de toda a luta pela vida, é preciso se deparar com os limites da ciência. Mas há ganhos sem igual também. “O mais gratificante é conseguir contribuir com a promoção da saúde em todas as faixas etárias, do nascimento à morte com dignidade”, enfatiza. “Não há nada mais recompensador do que um sorriso de uma criança, idoso ou adulto durante algum tipo de cuidado, ou de um paciente saindo de alta hospitalar após vencer uma batalha na internação”, opina. “Tenho muito orgulho de ser enfermeira e hoje tenho a oportunidade de ensinar isso aos alunos”.
A coordenadora acrescenta que, levando em consideração os avanços da enfermagem, da medicina, ciência e tecnologia nos últimos tempos, é essencial estudar sempre. Segundo Hellen, há pesquisadores defendendo que conhecimento tem se renovado a cada dois anos, todos os dias surgem novos desafios como a COVID-19, novos tratamentos, procedimentos, condutas, recursos, e o enfermeiro tem que estar preparado para esses desafios, seja se beneficiando da educação continuada, com cursos de especialização, mestrado, doutorado, ou da educação permanente, em atividades desenvolvidas para atualização e capacitação em serviço.
Outra forma de se aperfeiçoar e, ao mesmo tempo, fomentar o conhecimento para o desenvolvimento da profissão é a pesquisa acadêmica, como conta a graduanda do curso de Enfermagem do UniMetrocamp, Fernanda Valentim dos Santos, que está no sexto semestre e já atua como técnica de enfermagem. A aluna teve a oportunidade de apresentar seu trabalho ‘Pandemia COVID-19: A resiliência do profissional técnico e universitário em enfermagem’ durante o I Seminário Regional Centro Sul de Pesquisa e Mostra de Pesquisa em Ciência e Tecnologia 2020, promovido pelo centro universitário em outubro. “Além de ficar muito grata pelo espaço que tive para poder ampliar minhas capacidades em pesquisa e ciência, consegui dar voz a milhões de profissionais que estão aí no combate, dando visibilidade para nossa categoria, espero que mais e mais alunos se interessem por esse campo e existam sempre novas oportunidades”, conta Fernanda.